sexta-feira, 6 de abril de 2012

Primeiro dia na ONU...

      Desculpem-me o vocabulário, ou melhor, a falta dele, sobretudo minha mãe que tentou me ensinar os bons modos, embora em vão, mas a primeira vez de alguma coisa ou o primeiro dia na escola ou num trabalho novo é simplesmente uma merda.  Bom, é pelo menos assim que eu descreveria meu primeiro dia como estagiário na ONU em Genebra.  Ele não foi de todo ruim, mas o fato é que você passa 8 horas perdido sem saber o que fazer e/ou como agir... Primeiramente, as pessoas te olham nos corredores desconfiados, com uma expressão de Sherlock Homes a frente de um caso quase indecifrável (o "quase" é pertinente por que Sherlock Homes era o Chuck Norris do final do século XIX) tentando decifrar quem é você. Segundo, encontrar um simples mictório torna-se uma volta ao mundo, sobretudo na ONU, uma vez que você pergunta a três pessoas diferentes a direção do banheiro e cada uma delas fala uma língua diferente - exceto português, é claro - para descobrir, enfim, que o banheiro era simplesmente ao lado da sua sala e as dezenas de corredores – e haja corredores naquele Palais de Nations - e os 15 minutos andando que nem um bobo foram simplesmente à toa. Terceiro, eu entendo que se trata da ONU, que são 193 países membros, seis línguas oficiais, árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo, mas colega, eu não sou obrigado a falar TODAS. As pessoas veem falar com você presumindo que você domina todos os idiomas e ao perguntar algo ficam te olhando e esperando uma resposta....e a única coisa que eu posso dizer é... ты говоришь по русски? Sorry, I don’t speak russian...西班牙人 我明白 中国的? Are you really asking me that? (aqui eu caricaturei um pouco) ...Español? entiendo pero no hablo muy bien...English? Well...Français? Oui, bien sûr...Português? Isso ninguém me perguntou até agora. Veremos até o fim de agosto.

      De resto, a primeira vez tem sempre um gosto doce acompanhado de um sutil sorriso de canto de boca que evidencia sua alegria de estar num lugar desejado. E a ONU era um desejo antigo, onde, apesar das dificuldades naturais de adaptação, percebo que apesar de seus corredores enormes, inúmeras salas de conferências e negociações, obras de arte doadas pelos quatro cantos do planeta, pessoas falando inúmeros idiomas que eu nem sabiam que existiam, a ONU se trata de uma instituição extremamente organizada, repleta de profissionais gabaritados e sem a pompa e o luxo que eu aguardava. Computadores simples, escritórios (às vezes com as paredes descascando por causa de sua pintura antiga), bibliotecas, um restaurante como em qualquer grande empresa, onde as pessoas aguardam na fila com suas bandejas, onde os estagiários pagam 8 francos suíços e não 12 como os demais ou mesmos alguns que trazem a famosa marmita e requentam no micro-ondas e, sobretudo e mais importante, pessoas com alguns ideais incomuns. Primeiras impressões positivas...