quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Acaso

                     
                                                                            João Paulo Cavalcante

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Infeliz Natal!

Outro fim de ano se aconchega, o espírito de bondade se sente no ar, desejos mil se perdem pelo espaço. Aquelas famosas promessas de mudança, de novas atitudes, de um novo começo, de se largar tudo para se fazer o que se sonha, de aposentar velhos hábitos e velhas hipocresias, de se fazer realmente o que dá na telha e não o que o rebanho imita. Ilusões. O ser humano se esquece que somos todos fracos, inanimados, hipócritas, individualistas e, sobretudo, medrosos. Somos patéticos. Ignoramos nossas dificuldades, olhamos sempre para nossos próprios umbigos e cegamos diante das oportunidades que nos traz a real felicidade. Somos, ou melhor, estamos todos cegos. E em dezembro a escuridão ainda é mais forte. O mês da ilusão. O que deveriamos pensar, refletir, desejar, buscar, conquistar, agir, sonhar a cada dia do ano, a cada minuto de nossas pobres e curtas vidas, idealizamos realizar em poucos dias do ano. Imaginamos que ao colocar “pisca-piscas” em nossas janelas o mundo ficará mais bonito, correto e justo. Besteira! Estas luzes apenas encobrem nossas sombras desesperadas num planeta fútil e iluminam a mediocridade humana. Sorrisos e desejos de um feliz natal e um ótimo ano novo se multiplicam entre desconhecidos pelas ruas, o espírito natalino é fantástico, ele muda as pessoas, não é?! Engano. Nos outros onze meses do ano não somos capazes de oferecer um assento no ônibus a alguém que precise mais ou mesmo parar o carro para que o pedestre continue seu caminho ou pior, ignoramos o próximo, os nossos semelhantes, aqueles que amamos repetidamente todos os dias. Curioso, eu não sei o que acontece, mas por que Dezembro excita tanto a solidariedade e o espiríto de compaixão entres as pessoas? Acreditam elas que um brinquedo doado, uma cesta básica oferecida, uma esmola mais generosa, ao invés das moedas de dez centavos jogadas diariamente janelas a fora de seus automóveis 0 km realmente os fazem homens e mulheres melhores? Acreditam que estas atitudes isoladas mudam o mundo? Que seus surtos de generosidade pontuais fazem alguma diferença na vida daqueles coitados? Mentira! Estes ignoram o fato que bonecas de plástico não educam, que um punhado de macarrão apenas maqueia a fome e que, de forma alguma, criam pespectivas aos “fora do sistema”. Ser humano no dicionário deveria ser sinônimo de patético.

João Paulo Cavalcante

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Compreender o Brasil

Por um Brasil melhor é preciso compreendê-lo. O texto no blog abaixo é um bom começo para essa jornada. Dever da sociedade e uma obrigação individual de todos. "Mudar o mundo é fácil, o díficil é começar".


http://luizeduardosoares.blogspot.com/

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dilma venceu. Bom. Todavia, a democracia se faz, sobretudo, em nossas pequenas ações cotidianas. Isso sim é ótimo.

JP

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Por que eu voto na Dilma?

Dois pesos

Por Maria Rita Kehl, para o O Estado de S.Paulo

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.




Não importa em quem se vota, o importante é saber o porque se vota ou não em determinado candidato. (JP)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

''Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.''

José Saramago

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Eu quero o novo denovo como sempre inédito.

É preciso viver!

Eu quero um barco a remo, uma torta de limão, uma ferrari...um sorriso...não, não...deixe me ver...querooo...droga...não sei! Uma transa...não...sim...quero andar pelo Orsay...espere...ainda não. Decide, decide porra!Um mergulho no mar...um churrasco com os amigos. Não, melhor, uma noite regada à vinho chileno...uma namorada...talvez esposa...hum...uma amante. Não, não, eu quero... uma viagem bem longa. Pra onde? Merda...Paris. Não. Vilhena. Não. Melhor. Uma volta de bicicleta por Campinas. Besteira. Eu quero...como é difícil...quero correr, simplismente correr até não aguentar mais. Isso...não...já sei, prefiro gritar, gritar até perder a voz. Não. Um livro. Qual? O mundo de Sofia. O pequeno príncipe. Ensaio sobre a cegueira. Esquece, desisto. Ir ao banheiro, já volto. Um mundo melhor! Muito díficil. Um ser humano melhor! Impossível. Pensa...pensa...ahh...eu quero minha mãe, seu colo, carinho, olhar repreensivo...não...um poema do Drummond, arroz com feijão da minha vó...é...não! Cachaça Nega Fulô....da boa...não..um banho quente. Não. Decidi. Quero muito conhecimento. Uma filha chamada Maria...não...Antônia. Levá-la à escola, vê-la crescer...não...quero ser piloto de avião, pintor, boêmio é melhor. E agora José? Não sei. Aprender francês. Não. Árabe. Chinês. Nem é hein. Passar uns dias em Mantes la Jolie e ficar sentado em frente à Collégiale. Escrever um livro...é isso que eu quero. Talvez. Uma boa noite de sono...um suco de laranja bem gelado sem açucar. Não. Um porre...mas bem chapado e ficar cantando a noite toda e falando besteira pelos cotovelos, contando histórias da minha infância, rindo muito com a nostalgia, me amargurando pelas coisas que eu não fiz, que não falei, que não senti. Melhor, mas bem melhor, quero fazer um gol aos 47 do segundo tempo numa final de campeonato e socar o ar. Não, não...tantas coisas. Sim...minha infância de volta, o primeiro dia no SESI, bets na Rua Vera Cruz e depois corrida de rolemã...é isso! Será? Não. Já sei...ver a Ponte Preta campeã, invadir o Majestoso e depois um porre pela Avenida Glicério. Não, melhor...sair andando pelo mundo, atravessar os 5 continentes, ver o diferente, surprender os olhos, confundir o paladar e fazer vibrar o coração. Sim! Andar descalço, jogar uma bola no Parque dos Garantãs...chamar meu Pai de cabeçudo e odiar meu irmão mesmo sendo mentira. Não, quero conhecer alguém tão bem que apenas um olhar seja suficiente para desvendá-la naquele segundo. Chorar, rir, me arrepiar, me indignar com a política e com a vida...quero viver.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Olhe, descubra, viva.


Foto para o Concurso ArtMob 2010 da Prefeitura de Campinas. "Cidade e Circulação": Conhecer e valorizar a cidade pela re-significação dos patrimônios históricos, artísticos e culturais, parques, praças e jardins a partir do olhar que o trajeto a pé possibilita no relacionamento entre o ambiente urbano, rural e seus cidadãos.

domingo, 22 de agosto de 2010

Morrer é necessário

´Morremos milhares de vezes durante nossa vida. Morremos quando terminamos um namoro, ao perder alguém ou quando não conquistamos algo que desejávamos muito´. Se me lembro bem, foram essas as palavras do meu professor de História da Arte. Bem que se diga, uma das poucas coisas que se vale realmente estudar na graduação.
Mas em verdade, tememos tanto a morte que não nos damos conta que cada indíviduo, cada vida em si é uma sucessão contínua de mortes e renascimentos. Esse, felizmente, é o percurso natural que nos guia, pois, do contrário, na primeira porrada que a vida nos desse o chão seria eterno. Todavia, a estupidez humana caminha de mãos dadas com sua capacidade de regeneração e superação. Temos a infinita capacidade de cometer as maiores burrices no menor espaço de tempo possível, embora o relógio da esperança, da reconquista e de se colocar de pé com nobreza seja uma característica tão humana quanto amar.
As palavras do meu professor são verdadeiras. Ao perder alguém, ao falhar em algo muito importante, o tempo parece simplismente parar, a gravidade atuando com toda sua força sobre o corpo, pois ficar deitado ou cabisbaixo é um dos poucos movimentos possíveis, sem apetite, sede, vegetando e enfim  morte da alma.
Naquele mesmo milésimo seguinte ao sepultamento, o coração volta a pulsar, sente-se o sol, o apetite recuperado, os olhos iniciam novamente sua trajetória em busca do novo, do inesperado, de algo que nos surprendam e nos faça querer viver mais. Renascemos. Todavia, renascemos diferentes, fortalecidos, pois só a tristeza, a dor, o amargo da derrota  e da perda nos ensina. Corta mas cicatriza, nos fazendo olhar a nossa volta com mais sabedoria e, sobretudo, paciência. A jornada é assim, se cai e se levanta, se apanha mas se bate também. A felicidade só existe porque a tristeza existe, assim como o orgasmo e a dor, a Ponte Preta e o Guarani, a luz e a escuridão...o mundo é uma oposição constante e infinita. Buscamos a felicidade constante, ao extremo, sem limites, mas se isso fosse possível não haveria graça na vida, não aprenderíamos com os erros, não haveria a gana pelo desafio e superação. Em suma, a vida seria uma merda, como uma novela das 9 que você sabe como começa e termina. Que bom que não é assim.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

sábado, 17 de julho de 2010

Shakespeare

Somos engraçados, quando estamos a viver algo bom, feliz, raro quase sempre não nos damos conta. Aquele dia ou usulamente aquela noite, aquele olhar, um sorriso, um filme, um gesto, uma viagem ou uma pessoa interessante, diferente e com a qual o tempo simplismente deixa de existir.
Todavia, horas, dias ou anos depois daquele instante único nos sentimos vazios, impotentes, infelizes por não termos o poder de voltar no tempo e vivê-lo com mais gana, observando com mais serenidade cada detalhe, com mais sutileza cada toque, ouvir todas as palavras e buscar compreender cada significado e intensão.
Neste instante de intensa nostalgia nos martirizamos, nos culpamos, buscando motivos pelo fracasso, por não termos vivido com mais humanidade, com mais sentimento, com mais corpo e, sobretudo, com mais alma. No desespero, nos perguntamos se aquilo realmente existiu e por uma resposta confortadora à infelicidade e amarga saudade fantasiamos que aquele ponto alto de nossas vidas simplismente não existiu, que fora obra da nossa imaginação ou um sonho bom. O real é irreal. Dessa forma, o agora torna-se mais palatável, embora, sem sal.
Shakespeare tinha razão ''Ser ou não ser, eis a questão'', ou seja, hoje estamos por aqui e amanhã poderemos não estar.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Chá-de-sumiço

Se chá-de-sumiço estivesse a venda, sem dúvida, seria um grande sucesso. Ações impensandas, desejos não controlados, palavras desmedidas, sentimentos estranhos e, sobretudo, dúvidas, muitas dúvidas seriam os ingredientes perfeitos para tal sucesso. Na verdade, cada homem e mulher no planeta levaria consigo um sache na carteira ou na bolsa para qualquer eventualidade ou surpresa durante o dia. Seria vendido em qualquer quitanda ou farmácia e até mesmo oferecido pelos ambulantes nos faróis: '' E aí tia...vai um chá-de-sumiço...ta meio angustiada hoje hein...5 por 10?''. Outdoores, propaganda na TV, anúncios de rádio estariam por toda parte e nem precisariam de qualquer inovação midiática ou sacada publicitária. Uma simples frase seria suficiente: ''Compre e cure suas angústias''. Pronto! Bilhões comprariam. Sedentos pela oportunidade de apagarem os seus erros do passado ou de reviverem as oportunidades e chances desperdiçadas que deixaram de lado pelo vício humano de sentir medo do novo, do desconhecido, do improvável. Tomariam um por dia na ânsia de diminuirem o aperto do peito, o embrulho no estômogo da conquista não obtida, dos sonhos perdidos, do desprezo e olhares não correspondidos que sufocam, imobilizam, machucam, tiram-nos o apetite e o sono, inundam os pensamentos na tentativa de encontrar um caminho alternativo que revertessem a situação ou que a trouxessem pra perto ou simplismente apagassem a nossa memória para um novo dia ou um velho dia de sempre.

Capitania

A vida não é pra qualquer um e, infelizmente, ela é restrita a um grupo seleto de pessoas, o resto, bom... não vive, apenas existe. Esse imenso grupo de desocupados apenas dá ouvido aos seus medos e dúvidas. Confiar é tudo o que se precisa. Confie no seu céu. Segure as rédeas de sua vida, tome você controle dela em prol de você mesmo. Se demita dessa sua vida...eu não estou pedindo uma mudança de vida radical, sair pelo mundo sem rumo com uma mochila nas costas, uma muda de roupa e um sonho no coração, embora isso seria o que todos deveríamos fazer, inclusive a este que vos escreve. Não, faça pelo menos uma coisa que você realmente deseja e tem vontade no seu dia...algo libertador ...oq¿ Ah isso eu não sei...isso é com você e ninguém pode te dizer. Cansei de ser marujo, receber ordens, almejo a capitania, ser capitão do meu próprio destino, das minhas vontades e sonhos, sim, por que não¿

sexta-feira, 18 de junho de 2010

À Saramago

''Dentro, iam o rei de portugal, dom joão, o terceiro, e o seu secretário de estado, pêro de alcáçova carneiro, a quem talvez não vejamos mais, ou talvez sim, porque a vida ri-se das previsões e põe palavras onde imaginámos silêncios, e súbitos regressos quando pensámos que não voltaríamos a encontrar-nos.''

(A viagem do elefante - José Saramago)

Homenagem ao grande escritor português que faleceu hoje.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Hoje eu morri

Hoje eu morri. Em poucas horas estarei no caixão. O motivo? Não sei...talvez tédio. Acho que deve ser isso. Sempre que ouvia que alguém havia morrido de ataque cardíaco eu não acreditava. Logo imaginava que a morte do cidadão era apenas efeito colateral do tédio. Regrado pela mesmice do dia-a-dia, do acordar cedo, se levantar, escovar os dentes, se vestir formalmente, ir ao trabalho, dizer bom dia, bom dia e bom dia, almoçar, bater o ponto, retornar para casa, jantar ao ver o Jornal Nacional e ao fim dizer boa noite ao William e a Fatima, ir para cama, acordar cedo, se levantar, escovar os dentes...

Aqui Jaz Fulano. Homem amoroso pela vida, pelo desconhecido, pela aventura. Hipócritas.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ato Singular

Amanhã, ao sair atrasado para o trabalho, comendo uma barra de cereal sem gosto algum, faça o exercício de pelo menos uma vez no seu dia parar o seu belo automóvel para um pedestre passar. Naquele momento ao frear seu carro e lhe estender sua mão num movimento suave de cortesia inesperada, você falará sem palavras a um estranho, que naqueles poucos segundos, você, num ato singular, se propôs a dispor o seu tempo e, sobretudo, sua atenção a ele. Nos dois primeiros segundos, aquela pessoa desconhecida se estranhará com tal atitude, mas ao terceiro, ele dará o primeiro passo seguido de outros até o outro lado. Nesse caminho ele o olhará nos olhos com um sorriso quase imperceptível e lhe fará uma reverência, agradecendo seu ato de nobreza. Nessa fração de segundo ao cruzarem seus olhares, dois estranhos se tornarão íntimos na certeza que naquele instante único você confia nele e ele em você. O estranho de alguma forma particular chegará ao outro lado da rua diferente, com um sentimento bom dentro de si e isso lhe valerá o dia, assim como você.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Dialogue

(Texto realizado para o concurso de literatura da Aliança Francesa Campinas com o tema Colleur Femme)

Deux hommes dans um café en discutant:

- Je veux la verité.

- Quelle verité ?

- Le secret !

- Secret ?! Mais quel secret ?

- Si je le savais il ne serait pas un secret.

- Je ne comprend pas. Tu parles de quoi ?

- Le secret de la femme.

- Ohlalà...mais quel secret et quelle femme ?

- D’accord...D’accord...Je te dirai la verité..bon...Je suis amoureux !

- Amoureux ?! De qui ?

- La femme.

- Je sais que c’est une femme, mais qui ?

- Ce n’est pas une femme spécifiquement. Je suis amoureux de toutes les femmes.

- Tu es fou...c’est impossible d'être amoureux de plus d’une femme. Bon...amoureux de deux ça va...mais de toutes ?

- Tu n’as pas compris. Je suis amoureux du genre féminin.

- Comment ça ?

- Je suis amoureux de sa beauté cachée sous les petits gestes ; sa force et volonté de se battre pour une vie meilleure pour elle même et sa famille ; sa façon d’être adorable, charmante et sexy dans un seul regard. Elles sont complètement differentes l'une des autres, la manière de parler, marcher, s’habiller, vivre. Toutefois, elles sont toutes incompréhensibles et magique en même temps.

Voilà, c’est pour ça que je veux découvrir le secret des femmes.

- Tu es fou !

- Oui, je sais...mais qui n’est pas fou des femmes.

domingo, 21 de março de 2010

1+1 não deveria ser 2

Saia do óbvio. Saia da burocracia da vida contemporânea. Nasce, cresce, estuda, trabalha, trabalha, viaja por uma semana, trabalha e morre. Quem determinou que a sua felicidade depende dessa lógica¿! O porquê do medo do novo; do inesperado; do inusitado¿ Viva! Come o que deseja; ouça o que te agrada; dance o que te move; fale o que tem vontade. Deixe de lado essa polidez comedida, esse falso protocolo de regras de conduta no armário, ignore essa morbidez dos falsos relacionamentos sociais sem sal e com sorrisos não desejados. Faça da espontaneidade sua palavra de ordem!
Por exemplo, a Educação. Tal deveria fazer que com o aluno, seja ele primário ou universitário, tivesse tesão pelo conhecimento e o transformasse de maneira crítica em novas idéias e, sobretudo, o fizesse interagir e pensar o mundo a sua volta com mais liberdade e consciência.
Contudo, somos capados desde criança pelas grades curriculares, pelas formatações padrões de trabalhos, pelas médias para passar de ano. Regras, padrões, condutas pré-determinadas que engessam nosso estilo de vida para sempre e nos privam de escolher livremente o que queremos aprender e o que queremos ser. Tal lógica ignora o que a humanidade tem de mais rico, isto é, a singularidade de cada homem e mulher e nos colocam num padrão cartesiano dentro de um outono sem fim, frio e cinzento.
Uma pergunta. O que é felicidade para você¿ Possíveis respostas: estudar numa escola renomada; ter um bom emprego e um bom salário; ir ao shopping no fim de semana; jantar em bons restaurantes; ter um carro potente ou um vestido de marca; viajar à Paris uma vez por ano e tomar um Bordeaux com vista para as águas do Sena. Não é possível que isto seja uma verdade absoluta e verdadeira. Não é possível que nos seus sonhos você nunca tenha vislumbrado trabalhar ou fazer algo em prol de algo maior, algo que só de pensar te faça arrepiar e ter vontade de sair gritando de felicidade e orgulho.

Dicas de leitura:
A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir por Rubem Alves ou o filme Leões e Cordeiros (principalmente a parte da discussão entre aluno e professor).

Happyland é aqui!

Conhecendo algumas cidades em diferentes partes do mundo, seja em Campinas, Vilhena, Vitória, Mantes-la-Jolie, Paris, Leiria, Londres, Baden-Baden, New Orleans, Silver Spring ou Washington,Buenos Aires com suas culturas distintas e línguas diversas, reparei dois pontos extremante iguais entre as pessoas e suas cidades. A primeira é em relação ao próprio ser humano, que, seja onde for, busca: conhecimento, um bom trabalho, uma boa música, sexo, um parceiro ou parceira que lhe faça companhia, comida gostosa, férias, festas, se está feliz busca alguma forma de ficar triste e vice-versa, algo em que acreditar, sonhos e suas realizações, beber, dançar, um gato, cachorro… Mas isso é o assunto para uma próxima conversa. O segundo ponto comum entre as pessoas que vivem nas cidades ao redor do planeta é o MEDO.

Lembro de estar na ETEP, Escola Técnica de Paulínia, no segundo ano do curso de Química, todavia, preocupava-me mais com a Educação Física e os campeonatos de vôlei e handball; com a minha primeira namorada Vivian e seus olhos azuis; com aulas de geografia e literatura do que, propriamente, com as aulas de laboratório, seus reagentes, pipetas, fórmulas e tubos de ensaios chatos. Foi justamente com o professor de literatura Arley, quem em 2002 nos levou à Bienal de São Paulo, que me deparei com uma maquete idealizada pelos arquitetos Isay Weinfeld e Marcio Kogan juntamente com o texto abaixo Venham viver em Happyland, um dos mais bem escritos e realísticos que já li. Este foi redigido num tom irônico, bem humorado e, sobretudo, crítico ao mundo que estamos idealizando, as relações que criamos com as pessoas ao nosso redor e ao modo como estamos construindo nossas cidades. Leia, reflita e veja se há alguma semelhança com o nosso cotidiano e com o rumo que estamos tomando. Se possível, leia em voz alta.

Venham viver em Happyland!
de Isay Weinfeld e Marcio Kogan

Venha sentir novamente o que é felicidade! Uma cidade que só nos proporcione prazer. É o fim do medo, das angústias… da liberdade. A segurança em primeiro lugar.

Qual a vantagem de ser livre? Andar por aí morrendo de medo? Pois é. Em Happyland, todas essas frivolidades foram abolidas. Será que existe algum tipo de prazer em você sair de casa, dar a mão para o seu filho e passear calmamente pelo bairro com o seu poodle na coleira? Qual é a graça? Para quê? Para cruzar com os vizinhos insuportáveis na rua? Pra cumprimentar o barbeiro que semana passada fez sem querer aquela barberagem no seu cabelo? (onde já se viu alguém fazer alguma coisa sem querer?) Para observar o horror da arquitetura? Este modelo de cidade em que as pessoas se cruzam nas ruas, se olham, se conhercem, se enamoram num encontro casual…, este modelo está totalmente ultrapassado.

Em Happylandm não! Isto jamais acontecerá. Você não cruza com ninguém, você não vê ninguém, você não conhece ninguém, você não se enamora, mas também não se ilude, não sofre, não chora e assim é melhor para todos.

Isso não quer dizer que você não possa sair para dar uma volta a pé nos parques, viadutos ou à beira do rio. Há inúmeras lojas no Shopping Center que vendem coletes salva-vidas, e é lógico que você não vai ter um poodle em Happyland, aquele ridículo cachorro decorativo, mas se você tiver um pit-bull, por que não? Sem coleira, evidentemente.

Outra grande vantagem é que Happyland é uma cidade sem história. Uma cidade política e economicamente não aliada a nenhuma outra civilização. Uma cidade que não se compromete com nenhum ideal, ou seja, uma cidade com possibilidades remotas de ataques terroristas suicidas. Mesmo assim é precavida: as “Novas Torres Gêmeas” estão colocadas na horizontal, e como a falta de comunicação entre as pessoas é total, não há Correios em Happyland, para evitar contaminalção de antraz. Já dentro do Shopping Center há uma área reservada para a explosão de homens-bombas. É super bem localizada. Ao lado da praça de alimentação.

Na realidade, a vida em Happyland é muito tranquila. Sabe aquela vidinha pacata, de cidade do interior, que todos nós idealizamos? Pois bem, assim é em Happyland! Você sai tranquilamente de um dos magnifícos condomínios residenciais, como le Hameau, Ruínas do Morumbi ou Aerocasa e entra em seu carro blindado.(Não coloque vidro fumê! Seja altivo. Encare o assaltante e deixe que ele veja em que está atirando). Se você sobreviver, atravesse o Parque dos Refugiados e siga direto para seu escritório localizado nas “Novas Torres Gêmeas”. Passe o dia dentro de sua sala blindada comunicando-se através de telefones com seus funcionários. Esse contato caloroso entre as pessoas, essa confraternização…é isso que dá o tom agradável em mais um dia de trabalho. E ai você nos perguntará: Se a comunicação é feita por telefone, por que se locomover da residência ao escriotório? Péssima pergunta a sua: Você sai um pouco, muda de ares comprimidos, vê através de vidros à prova de balas, pessoas novas mesmo que sejam desinteressantes e não tenham o que falar pelo celular, e o mais importante: o fato de você sair de casa de manhã e ter finalmente a certeza de que à noitinha voltará são e salvo. Talvez mais salvo do que são.

Na volta do escritório, não custa dar uma passadinha pelo Pátio de Desova de Sequestrados, só para ver se tem algum sequestrado na família esta semana e tendo ou não tendo, seguir feliz para casa. O domingão é dia de levar a família passear de Bateau-Mouche Blindado pela manhã, visitar o Salão do Carro-Bomba à tarde e que tal terminar o dia no Shopping Center numa sessão de cinema? Não para assistir evidentemente àqueles filmes água-com-açucar tipo “O Exterminador de Cyborgs”. Afinal, a gente vai ao cinema para ver alguma coisa mais forte, impactante, inusitada… para fazer nossa adrenalina subir, alguma coisa totalmente foro do nosso dia-a-dia. Que tal um filme de amor?

Depois desta péssima experiência, vá direto para sua casa e tranque-se várias vezes. Fique confinado. Faça de sua vida um verdadeiro “reality show”. Mas sem final feliz.

Felicidade é que já temos de sobra em Happyland.

sábado, 13 de março de 2010

ZAP

ZAP...''introduire un Cheval de Troie en Afganistan est la nouvelle offensive militaire des'' ZAP... ''I’M THE KING OF THE WO…'' ZAP…''lancement de nouveau téléphone mobile de…''ZAP…

Le zapping du petit Olivier qui allait crescendo escagassa sa mère. Celle-ci l’ envoya dans sa chambre pour faire ses devoirs.

<< S’il te plaît Maman laisse-moi regarder encore un peu la télé >>, répondit le petit garçon qui attendait avec impatience son programme préféré tout en continuant à zapper. Il s’agissait d’un dessin animé dont le personnage principal savait apprécier les plaisirs simples de la vie.

<< Il n’y a pas de "s’il te plaît" qui vaille, tu vas faire tes devoirs! Ce n’est pas en regardant la télé que tu obtiendras un diplôme et une bonne place dans la societé>>.

Résigné, Olivier finit par obéir en ruminant: << Quelle galère...les médias parlent de la dictature en Corée Du Nord, aux Honduras, en Angola, mais elle peut aussi se manifester dans notre famille et émaner de notre propre mère... >>.

Allongé sur son lit, le casque de son baladeur sur les oreilles, le jeune garçon se lança dans un remue-méninges à propos de son avenir. Il avait la conviction qu’il n’existait aucun chemin meilleur qu’un autre mais diverses variantes adaptées à chaque personne. De même, Il voulait plus qu’un diplôme et une bonne place dans la societé. À l’image du héros de son dessin animé, il voulait être son propre mentor, développer sa propre façon de penser, s’enrichir grâce à une littérature qui ne se limite pas aux manuels scolaires et à des expériences telles que des voyages, des rencontres...